domingo, 7 de março de 2010

Vamos nos livrar da gripe? (parte 2)

“A gripe comum, em si, possui uma baixa letalidade, cerca de 0,5%”, calcula o infectologista Stefan Ujuari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Ainda assim, estima-se que esteja por trás de 500 mil mortes ao ano em todo o mundo. O perigo, porém, dobra de tamanho quando um influenza que antes só vivia em outras espécies, como aves e porcos, consegue se recombinar e migrar para o corpo humano. Nesse caso, o organismo pena para se defender e a repercussão da invasão é bem mais intensa.

A solução perfeita para coibir esse bando de micro-organismos seria encontrar dentro do seu material genético algo que nunca ou pouco se altera, como uma proteína. A estratégia, então, seria se valer desse achado para formular uma vacina universal, válida para todo o planeta. Essa é uma ideia fixa para cientistas da Universidade Saint Louis, nos Estados Unidos, cuja pesquisa atrai investimentos de diversos laboratórios. “Mas o trabalho deles ainda é algo para o futuro”, pondera o geriatra João Toniolo Neto, da Universidade Federal de São Paulo. Por ora, não se sabe se ela daria cabo de toda sorte de influenza, principalmente os que estão por vir.

Para aprimorar a frente de batalha, pesquisadores não perdem tempo em aperfeiçoar a versão de vacina disponível para o influenza sazonal, aquele típico das estações mais frias. “A meta é enriquecê-la com substâncias capazes de potencializar sua ação”, esclarece Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. No entanto, quando há um novo vírus no ar, a tática para inibir uma possível pandemia seria elaborar vacinas específicas. O Instituto Butantan, em São Paulo, pretende fabricar um imunizante contra a gripe suína, por exemplo. “Aguardamos amostras do vírus da OMS para dar início à produção”, conta a pesquisadora Cosue Miyaki. O fato é que novas vacinas só obtêm êxito se os serviços de vigilância epidemiológica ao redor do mundo não dormem no ponto. “É um trabalho silencioso ao longo do ano inteiro”, diz Terezinha de Paiva.

“Será muito difícil erradicar o influenza”, afirma a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo. Por isso, não dá para baixar a guarda — tanto a curto como a longo prazo. “Uma grande mutação pode levar anos para acontecer”, esclarece a infectologista Tânia Chaves, do Hospital das Clínicas de São Paulo. O malfeitor é bem-sucedido na medida em que usa células de diversos hospedeiros para se multiplicar e se rearranjar com seus familiares, dando origem a estirpes mais terríveis. “O medo é uma recombinação entre o A (H1N1) da gripe suína com o agente por trás da aviária, o A (H5N1), que é mais letal”, diz o professor Durigon.

Com os avanços da medicina, porém, é improvável que enfrentemos um dia uma catástrofe como a gripe espanhola. A vigilância e as novas vacinas afastam esse risco. E até nós mesmos podemos prestar uma pequena contribuição, ao evitar tomar remédios para a doença sem orientação de um médico. “A automedicação só pode tornar os vírus mais resistentes”, alerta Isaías Raw, diretor- presidente do Instituto Butantan. Ninguém quer dar um empurrãozinho a um inimigo que já causa tanta dor de cabeça — e no corpo inteiro.

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